quinta-feira, maio 12, 2005

 
ESCURO CONFORTO FEMININO

Até há cerca de quatro anos acordava com carícias masculinas. Depois separei-me e durante longo tempo o acordar era bem mais solitário e difícil.
Mas mesmo durante todos esses anos, e apesar da meiga companhia, era um processo longo, demorado, até que o meu corpo e a minha mente se conciliassem e tomassem a árdua e dolorosa decisão de que acordar era a palavra de ordem naquele momento.
Desde muito pequena que acordo cedo, invariavelmente, e até hoje não me habituei (será que devo perder a esperança?).
O acordar cedo e o levantar-me da cama logo de seguida é algo que me acompanha há anos, à excepção de alguns dias de férias- poucos, muito poucos- em que não estávamos com as crianças.
Nesses dias os afagos masculinos eram ainda mais meigos, ainda mais masculinos quase sempre a encaminharem-se para um fim apetecível...mas muito ensonado!

Agora acordo com uma agitada e persistente companhia feminina.
Muito mais quente, sem dúvida alguma, meiga q.b., mas muito mais perspicaz e capaz de me entender. E de entender a minha dificuldade em me levantar da cama- cada ano que passa custa-me mais!

Sinto-a a roçar a pele da minha mão, depois vai subindo pelo meu braço até ao ombro.
Sinto um arrepio quente perto dos meus seios cheios. E, ainda adormecida, viro-me para o lado contrário na esperança que ela desista e me deixe dormir mais um pouco.
Mas não, ela não!
Se há teimosia e persistência ela encarna-a na perfeição.

Torno a sentir-lhe o toque macio, mas desta vez no meu pescoço. Sinto o seu hálito no meu pescoço e arrepio-me quase sempre.
Todas as manhãs...mesmo aos domingos.

Não desiste de tentar que me levante da cama assim como eu não desisto de a tentar dissuadir. Lanço a mão para as minhas costas procurando-a .
Afago-a, mexo-lhe nas orelhas e o nosso calor torna-se insuportavelmente acordado.
Penso, então, com bastante mais nitidez, que devem ser mesmo horas de me levantar da cama. Mas ainda fico um pouco mais.
Mas ela não desiste. E eu sei perfeitamente que o nosso ritual matutino irá continuar. E deixo-me ir neste gozo repetido.
Sinto os cotovelos serem mordiscados alternadamente como quem morde e foge em tom de provocação. Mais uma e outra vez.

Por fim, sinto que ela me toca por baixo do edredon com carícias menos meigas mas mais presentes. Mordisca os meus pés que, entretanto, se foram mexendo no meio dos agasalhos.
Até que, por fim, ela, no seu jeitinho atrevido roça os seus pelos nas minhas coxas ainda quentes da noite.
E assim decido que o duche está à minha espera.

Sento-me na borda da cama, enquanto ela salta ao meu lado, frenética, de cima da cama para o chão e vice-versa.

Só naquele momento dou por falta daquele ruído morno que até então me acompanhava- com o qual acordo todas as manhãs- o seu ronronar. O seu motor de vida. O modo de mostrar o seu prazer em estar comigo.

E lá vai ela atrás de mim até à casa de banho. Depois até à cozinha, depois até à mesa da sala, onde se senta calmamente, atenta, observadora dos movimentos típicos de pequeno almoço de uma mulher.
Observa e regista, certamente.
Às vezes chego a comentar que os gatos devem ser os enviados dos extraterrestres para nos observarem.

Pois é, mas é assim que hoje em dia, desde há uns anos, acordo com uma companhia feminina que sabe exactamente como me deve acordar e nunca se engana nas horas. É a minha gata.
É preta, magricela, olhos verdes (ou amarelos?), e tem nome de desenho animado: Baguera.
É arisca, cheia de personalidade, engraçadissima e vou certamente sentir mais a falta da sua presença na minha cama que da anterior. Alguém que me perdoe a franqueza!

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