sexta-feira, outubro 10, 2008

 
SWEETS FOR MY SWEETS


As minhas duas gatas têm comportamentos, personalidades e maneiras de interagir diferentes tanto na forma, como no conteúdo e até mesmo em matéria de horários.

A gata preta, mais velha e reservada, espera o tempo que for necessário para criar situações de cumplicidade comigo. Sempre em exclusividade, mantendo-se em constante alerta, apesar de enroscada nas minhas mãos e carícias, verifica a cada segundo se a mais nova está nas redondezas.

Ao pequeno-almoço salta para o parapeito ao lado da mesa e começa a meiguice. À mesma hora, num ritual matutino, sempre com a mesma forma e conteúdo: ronronando dá-me marradinhas nos cotovelos, nas mãos, passando para os ombros ao ponto de me fazer entornar o café quente pela mesa e em cima da camisa de noite. Consegue acordar-me de vez!

À noite, à hora em que o mundo se vai deitar, o silêncio convida-a a aninhar-se na minha barriga quando estou deitada no sofá da sala mas tendo sempre em conta a outra, que deverá estar suficiente longe de nós.
Normalmente a essa hora o caminho está livre porque a gata mais nova teima em guardar o seu lugar na minha cama. Por isso a gata preta rebola-se em cima de mim pedindo para ser mimada.
Quando acaba essa troca de carinho procura de igual modo um lugar na minha cama também esperançada que a não veja ao fechar a porta do quarto para me deitar.

Teimosia infrutífera, tanto de uma como da outra, já que não as deixo passar a noite na minha cama. Mas a teimosia ( ou será perseverança?) é uma característica felina.

A gata mais nova é cheia de cores e vida, sempre à espera da próxima brincadeira. Quem com ela convive verifica que a vida, afinal, é uma festa! Não anda, salta. Não corre, rompe o ar que lhe atrasa os movimentos. O seu ar patusco é ainda mais acentuado pelas suas orelhas donde saem abundantes pelos loiros, fazendo-a parecida com um gnomo. É muito patarruda e tem um ar infantil e engraçado. Impossível ficar zangada com ela muito tempo. Come o triplo da outra, apesar de ser 4 anos mais nova e arranja confusão quatro vezes mais.

Por outro lado, esta patusca parece mesmo um cão: de manhã levanto-me e aí vai ela comigo para a casa de banho. Senta-se a olhar para mim averiguando cuidadosamente todos os meus gestos, todos os rituais matinais. Quanto ao pequeno-almoço, e como é exclusividade da gata preta estar perto de mim, resolve deitar-se aos meus pés, mais uma vez bem ao estilo canino.

Normalmente, enquanto me visto e arranjo para sair de casa estarão já as duas no meu quarto, a apanhar o sol que entra pela varanda. Uma à janela, em cima da sapateira e a outra aos pés da cama ainda desfeita.

Ao fim do dia, quando entro em casa após um dia de trabalho, e mesmo antes de ver ou falar com alguém, os primeiros afagos ou ralhetes serão sempre para elas. Até mesmo antes de dar um beijo ao meu filho, pois são muito mais rápidas que ele.

Assim é viver com gatafunhices.

terça-feira, outubro 07, 2008

 

Gato que brincas na rua

como se fosse na cama,

invejo a sorte que é tua

porque nem sorte se chama.


Bom servo das leis fatais

que regem pedras e gentes,

que tens instintos gerais

e sentes só o que sentes.


És feliz porque és assim,

todo o nada que és é teu

eu vejo-me e estou sem mim

conheço-me e não sou eu.



Fernando Pessoa

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