quarta-feira, fevereiro 28, 2007

 
PAI NATAL EM AGOSTO



De todos os gatos que tinhamos tido restava o Pitágoras.
Nesta minha vinda a Lisboa deixara-o em Paris mas não deixava de estar preocupada com ele. Tentei despreocupar-me pensando que Marie, a vizinha que morava no andar de baixo, se encarregaria de o tratar tão bem quanto eu. Mas o bichano estava já tão velhote que me preocupava sempre que tinha que me ausentar.

Pitágoras era o teu gato. Sempre foi “o teu gato”. Sempre foi engraçadíssimo, como se fosse uma criança grande. Teve sempre um comportamento contrário a qualquer outro gato. Para me “meter contigo” dizia que era fruto de mimetismo...estava sempre tão perto de ti que lhe tinhas passado a tua eterna infantilidade.

Impossível não gostar do “Pitas”, diminutivo que lhe puseste com carinho.
Com a sua imensa meiguice, ambos gostávamos muito daquele bichano e do seu calmo temperamento. Mas tinha-te eleito a ti como dono e eu estava lá por acréscimo!
Desde que partiste que ele nunca mais foi o mesmo. Tento compensá-lo e acho que se sente seguro mesmo estando sozinho comigo. Mas a sua tristeza é muito grande mesmo para um gato com um “corpanzil” daqueles- parece mais um lince que um gato!
Sorrio só de pensar nos sustos que aquele tonto nos pregava...!

Lembro-me de um sábado, chegados da Galiza, entrámos em casa e não o vimos por nenhum dos sítios habituais.
Pensámos que a Rodica o tivesse levado para casa por não ter tempo para lá ir tratar dele durante as nossas férias, como prometera. Mais tarde, depois de desfazermos as malas, sabermos dos miúdos e tomarmos um banho iríamos buscá-lo.
Rodica disse-nos que não o tinha levado, que “ ainda esta manhã fui a casa do sinhor e sinhora tirar água velha e areia e dar comida nova!”. Rodica era uma empregada romena vinda numa das várias “ondas de romenos”, e de outros países de Leste, que “invadiram” Portugal naqueles anos.
Portugal já tinha passado nos anos 70 pela integração dos “retornados” das ex-colónias portuguesas em África. Mais tarde, por volta dos anos 80/90 a grande vaga dos brasileiros que literalmente desembarcaram em enxurradas, com uma atitude arrogante, ocupando de Norte a Sul os postos de trabalho que tanta falta faziam aos portugueses.


Rodica falava muito bem a língua portuguesa tendo em conta que chegara há pouco tempo a Portugal. Continuou a dizer-me que, de facto, não o tinha visto, mas que não o tinha procurado pensando que estivesse num dos quartos.

A bichanar baixinho e a chamar por ele comecei a deambular pela casa com saudades e uma certa dose de culpa por ter estado mais uma semana de férias do que originalmente pensara!
Nada! Nem pista dele!
Pensei que estaria amuado pela nossa ausência - sim, sim, para quem nunca privou com gatos fiquem sabendo que eles amuam e têm manias pois estão convencidíssimos que são pessoas!
Fiz-me de forte e não mais o chamei enquanto desfazia o resto das malas.
Passada cerca de uma hora tudo na mesma, nada de Pitágoras, como se se tivesse esgueirado pela janela fora. Não era costume, pelo menos desde que fora castrado. Comecei a sentir mesmo que algo esquisito se passava. Nunca tal tinha acontecido antes.
Tornei a chamá-lo e fui buscar o isco infalível: o saco da ração seca! Abanei-o violentemente para que fosse perfeitamente audível os grãos a baterem entre si.
Nada... rien de rien!
Dei comigo a chamá-lo de instante a instante, tanto pelo nome, como pelo diminutivo carinhoso, chegando mesmo ao apelido de família, normalmente usado numa zanga ou raspanete. Nada. Continuava com uma casa vazia de gatos ou miados.

Quando saiste do duche resolvi contar-te a minha preocupação e inevitavelmente respondeste: “ Está para aí escondido...já aparece, vais ver!”
Telefonei novamente à Rodica perguntando-lhe se tinha deixado alguma janela aberta.

"-De modo algum! Já procurou no fundo dos armários da roupa? De vez em quando esconde-se lá para dormir"- respondeu-me.

“-Mas tem a certeza que não abriu uma das janelas da sala ou do atelier?”- insisti pois já o procurava há mais de duas horas.
Também já preocupada e, suponho eu, sentindo-se posta em causa, respondeu-me prontamente que isso teria sido impossível!

"-Pronto, Rodica, não se preocupe que ele tem de aparecer. Se me garante que não o deixou fugir quando saiu, ele tem de cá estar! ...Sim, claro, depois dir-lhe-ei alguma coisa, não se preocupe".

Continuei a chamar pelo gato e estava mesmo a ficar convencida que tinha fugido. Como nunca tinha sido habituado a ir à rua- nem sequer às gatas!- comecei a sentir o coração apertado antevendo o desgosto de o ter perdido para sempre debaixo de algum carro ou camioneta. Como irias tu reagir a essa perda? Fazias-te de forte mas sofrias imenso quando algo se passava com os animais.

Resolvi interiorizar tudo isto e fiz um café fresco que levei com requintes de malvadez para a sala. Espreitei-te. Estavas deitado em cima da cama, talvez dormindo.
Sentei-me e comecei a saborear o meu café quando, por instantes, ouvi um barunho estranho na parede ao pé da lareira. Pensei que o malvado se tivesse escondido na lareira e pus-me de gatas, a espreitar lá para dentro chamando o bichano que já pensava desaparecido. Nada, nem sequer mais um barulhinho. Não, afinal tinha sido falso alarme.

Telefonei a um amigo nosso "expert" em gatices e gatafunhos.
"-Que tonta que és! Claro que não pode estar na chaminé da lareira! As lareiras não são feitas interiormente de maneira a que ele se pudesse ter lá metido...ele é tão corpolento que não pode caber no “pescoço de cavalo”!

“-“ Pescoço de cavalo”? O que é isso?”- perguntei ainda mais baralhada.

“- As lareiras têm o "pescoço de cavalo" que é como se pensasses numa grande prateleira em forma de “Z” para que o fumo não possa tornar a entrar na sala, entendes? Para que não consiga fazer o caminho de retorno mesmo quando está vento"- continuou com explicações sem me ajudar a entender onde procurar o raio do gato!

Disse-lhe que sim, sem sequer me preocupar muito acerca da arquitectura das lareiras. O que eu queria realmente saber era se o gato podia ou não ali estar e o resto não tinha muita importância naquele momento. Agradeci desligando.

Voltei para o sofá e peguei novamente na chávena jurando a mim mesma que não queria mais nenhum animal dentro de casa. Pronto, desta é de vez, não me convencerão do contrário. Já nem tinha a desculpa dos pedidos dos filhos pequenos quanto aos bichinhos abandonados e maltratados!
Estava nestes pensamentos, já com a angústia a roer-me o estômago e, como por encanto, caiu um gato "de quatro patas", tipo bloco de cimento quadrado, vindo de dentro da chaminé da lareira, mais rápido que um relâmpago em noite de tempestade!


Então? Não era impossível um gato enfiar-se para dentro do tal "pescoço de cavalo" de uma lareira? Pelo que vi não, não é impossível!

E ali fiquei eu a fazer festas a um Pai Natal todo sujo de preto, com a fuligem a sujar-me a cara em cada marradinha ternurenta que aquele malvado me dava. Não consegui sequer ralhar com ele por causa do valente susto que me pregara.

Desde esse dia, sempre que alguém anda de cabeça perdida à procura de um gato...
”-Procura dentro da chaminé!”- é a minha primeira advertência.
E se algum dia pensarem que estão doidos por causa do vosso gato não aparecer, mesmo havendo toda a certeza de que seria impossível ter saído para a rua, aqui vai um pequeno conselho: sentem-se calmamente e respirem fundo, pois os bichanos são peritos em pregarem sustos e fazerem com que façamos figuras ridículas.

sexta-feira, fevereiro 16, 2007

 
AQUI FICA BEM ILUSTRADO COMO A MINHA GATA BRINCA COMIGO!



... E AQUI TAMBÉM!




MAS APESAR DE ARISCA E MUITO SENHORA DO SEU NARIZ CONTINUO A GOSTAR MUITO DELA. É, SEM DÚVIDA, UMA BOA AMIGA DEMONSTRANDO TER MAIS SENTIMENTOS QUE A MAIOR PARTE DAS PESSOAS QUE POR AÍ ANDAM APARENTEMENTE COM BOM FEITIO!


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