quinta-feira, outubro 11, 2007

 
GATOS E MAIS GATOS


A ESCRITORA BRITÂNICA DORIS LESSING GANHOU NESTA QUINTA-FEIRA O NOBEL DE LITERATURA 2007

Doris Lessing (n. 1919) pertence à elite das mais versáteis, populares e consideradas escritoras inglesas do século XX. A sua escrita prodigiosa conduz-nos, no caso de " Gatos e mais gatos", por uma vida (autobiográfica) cujo calendário se estabelece tomando muito em conta a vida (e a humanidade) dos gatos que a partilham.

O júri descreveu Doris Lessing em um comunicado como "a narradora épica da experiência feminina, que, com ceticismo, ardor e uma força visionária sujeitou uma civilização dividida ao escrutínio".
Nascida no território da Pérsia, actualmente Irã, em 1919, quando seu pai era capitão do Exército britânico, Doris May Taylor viveu parte da juventude na então Rodésia (actual Zimbábue), o que marcou sua obra.
Ex-membro do Partido Comunista britânico, do qual se afastou em 1956 após a repressão da rebelião húngara, é comparada frequentemente com a francesa Simone de Beauvoir por suas idéias feministas.
"The golden notebook" ("O caderno dourado"), de 1962, sua obra-prima, conta a história de uma escritora de sucesso em forma de diário íntimo.
Para o Comité Nobel, este livro "é uma obra pioneira do movimento feminista e pertence ao grupo de obras que mudaram a forma de ver as relações homem-mulher no século XX".
Sua juventude, passada entre vários continentes, a inspirou a produzir sua primeira saga, escrita de 1952 a 1969: os cinco volumes de "Filhos da Violência".
Entre outras de suas principais obras figuram "The Grass is Singing", "The good terrorist", sobre um grupo de revolucionários de extrema-esquerda, "Andando na Sombra", "Regresso para casa" (1957), onde denuncia o apartheid na África do Sul, "O quinto filho", "Debaixo da Minha Pele da Companhia das Letras" e "Andando na Sombra".
A escritora sempre soube explorar todos os estilos, sem hesitar em uma incursão no mundo da ficção científica com os cinco volumes da série "Canopus em Argos: Arquivos", escrita entre 1979 e 1983, e entre os quais se destaca "Shikasta".
Nesta saga, Lessing imagina o mundo depois de um conflito atômico e fala dos antagonismos entre os princípios feminino e masculino, assim como de colonialismo e de catástrofes ecológicas.

Em 1984 Doris Lessing fez uma brincadeira com os meios literários ao lançar "Diario de uma boa vizinha" sob um pseudônimo (Jane Somers). Sua própria editora, que não conhecia a verdadeira identidade da autora, se recusou a publicar o livro.


" Lá vai gata preta, atarefada, atarefada, verificar focinhos, caudas, pêlos. [...] Gatinhos. Uma criaturinha viva na sua membrana transparente, rodeado pela imundície do seu nascimento. Dez minutos mais tarde, húmido mas limpo, já mamando. Dez dias depois, uma migalha com olhos macios e nebulosos, a boca abrindo-se num silvo de corajoso desafio à enorme ameaça que sente debruçada sobre ele. Nesta altura, em vida selvagem, confirmaria a sua selvajaria, tornando-se um gato selvagem. Mas não, uma mão humana toca-o, um cheiro humano envolve-o, uma voz humana sossega-o. Depressa sai do ninho, confiante de que as gigantescas criaturas à sua volta não lhe farão mal. Cambaleia, depois anda, depois corre a casa toda. [...] Gatinho encantador, gatinho bonito, lindo fofinho pequenino delicioso bichinho - e vai-se embora."

in Gatos e mais gatos- Doris Lessing








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